Você já percebeu que as idas ao supermercado estão ficando cada vez mais caras? Com R$ 100,00, por exemplo, a gente não consegue mais comprar as mesmas coisas que comprava um ano atrás. Isso é resultado do aumento dos preços — a famosa inflação.
Como a renda das pessoas não acompanha proporcionalmente a alta dos preços, é possível perceber uma redução no poder de compra. Aí não tem jeito: é necessário fazer ajustes no orçamento para manter as contas no azul.
Ficou interessado pelo assunto e quer entender como o aumento dos preços mexe no seu bolso? Explicamos tudo a seguir. Confira!
O que é a inflação?
É o aumento dos preços de produtos e serviços. Sabe quando você vai ao posto de combustível para abastecer e percebe que encher o tanque ficou mais caro? Pois bem, isso significa que os preços inflacionaram.
Se você olhar lá para trás vai perceber melhor como a inflação funciona. Há 10 anos, por exemplo, era possível comprar um carro popular zero-quilômetro com menos de R$ 30.000,00. Hoje, é difícil encontrar um modelo básico que custe menos de R$ 50.000,00.
Apesar de o aumento dos preços assustar um pouquinho, esse é um movimento natural da economia, sabe? Até mesmo países de primeiro mundo lidam com a inflação, pois um índice saudável mantém a economia aquecida e a nação em desenvolvimento. O problema está na inflação descontrolada, que sobe muito em pouco tempo.
Como a inflação é medida?
A métrica oficial usada pelo governo federal para acompanhar aumentos e reduções é o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Além de avaliar o poder de compra das pessoas, o cálculo influencia a taxa básica de juros e a rentabilidade de alguns investimentos.
Funciona mais ou menos assim: todos os meses o instituto visita casas, estabelecimentos comerciais, prestadores de serviços e concessionárias de serviços públicos para pesquisar o valor das coisas.
Cerca de 400 produtos e serviços entram no levantamento de preços. Os itens são divididos em dez categorias e cada uma delas tem um peso diferente na composição do IPCA. Olha só quais são os grupos e a relevância que eles têm no cálculo:
- transportes (20,59%): ônibus, metrô, táxi, transporte escolar, despesas com veículo próprio etc.;
- alimentação e bebidas (19,34%): arroz, feijão, farinha de trigo, fubá, carnes, frutas, verduras, suco, refrigerante, entre outros;
- habitação (15,59%): aluguel, água, energia, manutenção residencial, produtos de limpeza e por aí vai;
- saúde e cuidados pessoais (13,53%): despesas médicas e odontológicas, produtos de higiene pessoal, cosméticos, perfumes etc.,
- despesas pessoais (10,73%): atividades de lazer, serviços de barbeiro, cabeleireiro, manicure e muito mais;
- educação (6,14%): escola, faculdade, cursos, revistas, livros e artigos de papelaria;
- comunicação (5,71%): planos de telefonia fixa e móvel, internet, TV por assinatura, serviços de streaming, entre outros.
- vestuário (4,57%): roupas, sapatos e acessórios;
- artigos de residência (3,75%): móveis, lençóis, toalhas, eletrodomésticos, eletrônicos, etc.
Considerando o preço dos produtos e o peso que cada um tem no orçamento familiar, chegamos ao IPCA, que mostra uma média percentual de quanto os preços subiram. Quanto maior for o índice, maior é a inflação. Na prática, isso significa que os preços das coisas aumentaram e o custo de vida ficou mais caro.
IPCA x INPC
O objetivo dos índices é o mesmo: medir a variação de preços de produtos e serviços. No entanto, enquanto o IPCA engloba uma parcela maior da população — famílias com renda mensal entre 1 e 40 salários mínimos —, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) considera apenas quem recebe de 1 a 5 salários mínimos.
Agora, você deve estar se perguntando: por que essa diferença? A lógica é simples: quem ganha menos, sofre mais com a variação de preços. No INPC, as categorias de alimentação e transporte, por exemplo, têm peso ainda maior na base de cálculo justamente porque boa parte da renda dessas famílias vai para a compra de itens básicos.
É por isso que, apesar de o IPCA ser o índice oficial da inflação, é o INPC que é usado para negociações salariais, reajuste do salário-mínimo e correção de aposentadorias. A atualização é necessária para manter o poder de compra da população.
Quais são os fatores que impactam no aumento dos preços?
Os preços não sobem só porque empresários querem ter mais lucros. Existem diversos movimentos no mercado e na economia que influenciam — direta ou indiretamente — a inflação. A seguir, vamos explicar porque os preços aumentam. Veja!
Aumento da demanda
Você já percebeu que quando algum item de vestuário está na moda o preço vai lá para cima? É a lei da oferta e da procura. Quanto mais gente quer comprar um produto, mais caro ele fica. Moral da história: quando a demanda aumenta, os preços também sobem.
Se você olhar para o cenário de pandemia, essa lógica fica ainda mais clara. Durante o período de crise, muitos países pararam de exportar e seguraram o estoque de suas produções, enquanto o Brasil continuou com as exportações. Com menos importações e as exportações a todo vapor, o estoque de produtos por aqui ficou limitado.
Ainda teve o auxílio-emergencial que garantiu o poder de compra de pessoas que perderam a renda por causa das medidas de isolamento social. Com demanda mais alta e oferta mais baixa, os preços subiram.
Aumento nos custos de produção
Se a farinha de trigo, o fermento, o sal, o açúcar e o gás, por exemplo, estão mais caros, o preço do pão francês também sobe, não é mesmo? Não tem jeito: à medida que os custos de produção aumentam — matéria-prima, mão de obra, infraestrutura, entre outros —, o produto final encarece.
A cotação do dólar também reflete nos custos de produção, viu? Como a indústria brasileira utiliza muitos insumos importados, os itens produzidos com matéria-prima estrangeira ficam mais caros quando o dólar está em alta.
E mais: a valorização da moeda influencia até na relação entre oferta e demanda. Afinal de contas, para quem exporta, é mais vantajoso mandar mercadorias para fora para receber em dólar e lucrar mais. Daí, como já explicamos ali em cima, o preço das coisas sobe devido à alta demanda e baixa oferta, sabe?
Emissão de papel-moeda
A emissão de papel-moeda é necessária, mas o excesso pode gerar inflação. Sabe por quê? Porque o aumento do dinheiro circulando garante mais gente com poder de compra, de modo que a procura por produtos e serviços seja maior que a oferta — olha a lei da oferta e demanda aqui de novo.
Sendo assim, os preços sobem para equilibrar a balança. Nesse cenário, a moeda perde valor, uma vez que você precisa de mais dinheiro para pagar por um mesmo item.
Redução da taxa de juros
Reduzir a taxa básica de juros — a Selic — é uma medida legal para estimular a economia. Como o cenário fica favorável para contratar financiamentos e empréstimos, por exemplo, vai ter mais gente consumindo no mercado. Agora, pense bem: o aumento da demanda gera o quê? Isso mesmo: preços mais altos!
É por isso que o aumento da taxa de juros é uma estratégia comum adotada pelo governo para frear a inflação. Com a alta da Selic a tendência é que as pessoas comprem menos e, por consequência, os preços baixem.
Como o aumento dos preços impacta o bolso do consumidor?
Quem já trabalhava nos anos 80 e 90 sabe muito bem como a hiperinflação afeta a vida financeira de uma família. Na época, ela chegou a impressionante marca de 3.000% ao ano. Difícil imaginar, não é mesmo? Acredite se quiser: os preços dos itens de supermercado quase que dobravam do dia para a noite.
A inflação só foi controlada com a implementação do Plano Real, em 1994. Hoje, a nossa realidade é diferente — ainda bem! No entanto, em proporções menores, a inflação continua a causar impactos não muito legais no nosso bolso.
É como se fosse um efeito dominó, sabe? Por exemplo: a gasolina aumenta, por consequência, o transporte fica mais caro, o valor do frete é elevado e toda a cadeia de produção que depende do combustível sofre com os reajustes. As famílias que não têm renda tão alta sofrem mais ainda com a alta dos preços. A seguir, vamos explicar melhor como isso mexe com a nossa vida.
Redução do poder de compra
A lógica é simples: se os preços aumentam e o seu salário permanece o mesmo, você conseguirá comprar menos coisas, certo? O fato é que a inflação reduz o nosso poder de compra.
Apesar de os salários serem atualizados com base na inflação, nem sempre o aumento é proporcional ao crescimento das despesas. Além disso, a gente sofre com a alta dos preços primeiro, e a atualização salarial só vem depois.
Em 2021, por exemplo, o reajuste do salário-mínimo não repôs a inflação do ano anterior. O INPC de 2020 chegou a 5,46%, mas o aumento foi de 5,26%.
Mudanças no padrão de consumo
Imagine uma pessoa que pode gastar, no máximo, R$ 700,00 por mês em compras no supermercado. Se o valor dos itens subir, ela não terá condições de comprar as mesmas coisas que comprava antes, certo?
Quem já anda com o orçamento justinho, não pode pagar mais pela mesma cesta de produtos. Nesse caso, o jeito é fazer substituições. De acordo com uma pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha, 85% dos brasileiros reduziram o consumo de alguns alimentos por causa da alta dos preços. Olha só quais foram os principais cortes:
- 67% diminuíram o consumo de carne vermelha;
- 50% estão comendo mais ovos em substituição à carne bovina, suína e de frango;
- 51% limitaram a compra de sucos e refrigerantes;
- 46% reduziram o consumo de laticínios, como leite, queijo e iogurte;
- 41% cortaram os gastos com pães;
- 34% estão comprando menos arroz;
- 36% diminuíram a compra de feijão;
- 38% reduziram os gastos com massas, como macarrão.
Esses números mostram que o brasileiro está reduzindo não apenas o consumo, mas também baixando o padrão de vida.
Aperto para pagar as contas
Não é apenas a comida e o transporte que estão pesando no orçamento. Tomar banho, por exemplo, também ficou mais caro por conta da alta dos serviços de água, esgoto e energia. A alta da inflação afeta até o financiamento de veículos.
Veja bem: no processo de análise de crédito, o banco avalia a renda do cliente e só libera o recurso se as parcelas não comprometerem mais que 30% dos ganhos. Dessa forma, os outros 70% ficam livres para garantir o sustento da família.
O problema é que, com o aumento dos preços, as despesas que compõem o orçamento familiar ficam mais caras de forma inesperada. Daí, o consumidor pode ter dificuldade de arcar com as parcelas do carro.
Risco de endividamento
Muita gente recorre ao crédito para pagar as contas que ficaram para trás ou para manter o padrão de consumo que tinham antes. No entanto, em um cenário de inflação alta, essa não é a melhor opção. Afinal de contas, o risco de superendividamento é bem grande.
Para você ter uma ideia, a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), realizada pela Confederação Nacional de Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), mostra que o endividamento dos brasileiros bateu recorde em agosto de 2021: 72,9%. No mesmo período de 2020 o número era de 67,5%. Dá uma olhada nas modalidades de crédito mais usadas:
- 83,6% das famílias têm o cartão de crédito como principal tipo de dívida;
- 18,2% usam carnês;
- 13,1% pagam financiamento de carro;
- 10,3% têm financiamento de casa;
- 9,5% pegaram algum empréstiimo pessoal;
- 6,8% contrataram empréstimo consignado;
- 4,8% utilizam cheque especial.
Aqui vale abrir um parêntese para esclarecer que endividamento é diferente de inadimplência, viu? Qualquer compra feita a prazo é considerada uma dívida. Se você comprar hoje uma TV parcelada em dez vezes no cartão, por exemplo, já pode se considerar uma pessoa endividada — mesmo se não tiver nenhuma parcela vencida. Já a inadimplência é o não cumprimento das obrigações financeiras, isto é, deixar de pagar as contas.
Viu só como o aumento dos preços mexe com o bolso da gente? Nesse cenário, é interessante se organizar financeiramente para manter as contas no azul. É sobre isso que vamos falar a seguir.
Como economizar em um cenário de inflação alta?
Com o aumento dos preços, não tem jeito: é necessário fazer ajustes no orçamento e até procurar fontes de renda extra para conseguir pagar tudo em dia. Em alguns casos, vale até mudar padrões de consumo para equilibrar as finanças.
De qualquer forma, existem algumas atitudes legais para enfrentar o período sem passar por sufocos. Confira a seguir algumas dicas práticas!
Tenha um bom planejamento financeiro
Planejar significa colocar no papel todos os seus objetivos e metas financeiras para o futuro. Com isso, fica mais fácil enxergar o quanto você ganha e o quanto pode gastar. Além de garantir que não falte salário no fim do mês, essa organização é fundamental para viabilizar a realização de sonhos, sabe? Por exemplo: comprar um carro, casar, fazer uma viagem, entre outros.
Nesse contexto, vale criar uma planilha de controle financeiro e elaborar um orçamento com limitação de gastos para cada categoria. Se as despesas com alimentação na rua ultrapassam o valor determinado, por exemplo, é legal mudar os hábitos e cozinhar mais em casa para economizar.
A mesma lógica pode ser aplicada ao carro. Para curtas distâncias, que tal deixar o carro na garagem e caminhar até a padaria, supermercado ou academia? O seu bolso agradece a economia e o seu corpo fica feliz com o exercício extra.
Crie uma reserva de emergência
É difícil pensar em juntar dinheiro quando o orçamento já está apertado, não é mesmo? No entanto, ter uma boa quantia guardada é importante para cobrir despesas não previstas no orçamento como: cuidados médicos, reparos residenciais emergenciais, conserto ou substituição de bens essenciais, manutenção de despesas básicas em caso de desemprego, entre outros.
Sendo assim, faça uma reserva de emergência. O ideal é guardar o valor necessário para sobreviver por seis meses em caso de perda de renda. E nada de gastar esse fundo com compras supérfluas, combinado?
Diminua os gastos com energia elétrica
Você já deve ter percebido que a conta de energia está mais alta, né? A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) anunciou uma nova bandeira tarifária que será aplicada em períodos de escassez hídrica. Com isso, a conta fica, em média, 6,78% mais cara.
Para economizar, é legal seguir algumas dicas bem simples de economia. Olha só o que você pode fazer para reduzir a conta de luz:
- substitua as lâmpadas por versões de LED;
- escolha eletrodomésticos econômicos;
- abra portas e janelas para aproveitar a iluminação natural durante o dia;
- mantenha as luzes acesas apenas quando estiver no cômodo;
- retire da tomada aparelhos que ficam em stand-by — são aqueles que mantém luzes do display acesas até quando estão desligados — como micro-ondas, televisão, equipamentos de TV por assinatura, computadores, entre outros;
- invista em energia solar.
Faça uma lista antes de ir ao supermercado
Você já voltou do supermercado e, na hora de guardar as compras, percebeu que esqueceu alguma coisa? Isso acontece quando a gente sai de casa sem a anotação de tudo o que precisa. Além de deixar itens essenciais para trás, você pode comprar suprimentos que já tinha na despensa e não havia necessidade de comprar por agora.
Sendo assim, olhe o seu estoque de produtos, faça uma lista antes de ir ao supermercado e se limite a comprar apenas o que está anotado. Ao perceber que algum item está muito mais caro que o normal, vale fazer substituições por marcas mais baratas ou produtos similares para não ultrapassar o orçamento.
Outra dica legal é evitar levar as crianças para as compras. Afinal de contas, os pequenos não têm muita noção de valores e pedem tudo que veem pela frente. Se não for possível as deixar em casa, use a oportunidade para inserir a educação financeira infantil na rotina. Assim, eles aprendem a lidar melhor com o dinheiro.
Pesquise os preços
A variação de preços de um lugar para outro é bem grande — sejam itens de supermercado, vestuário, medicamentos e por aí vai. A regra vale até para serviços bancários. As tarifas e custos de manutenção de contas tradicionais, por exemplo, costumam ser mais altas se comparadas à conta digital.
Então, a nossa dica é pesquisar bastante antes de comprar ou contratar qualquer coisa. E mais: não tenha vergonha de negociar valores. Qualquer desconto representa economia.
Compre mais on-line
Você já pesquisou algo na internet e quando andou pelo comércio de rua percebeu que os preços estavam bem mais caros? De fato, as compras on-line costumam valer mais a pena porque os custos de manutenção de lojas virtuais são mais baratos se comparados aos do comércio físico. Essa diferença reflete na precificação dos produtos.
Logo, prefira fazer compras on-line. Além de economizar um dinheirinho, geralmente, as condições de pagamento são melhores com parcelamentos sem juros, descontos para compras à vista, possibilidades de inserir cupons de desconto e até ganhar cashback.
Mas é bom adotar algumas medidas de segurança para não ser vítima de golpes da internet, combinado? Veja alguns cuidados importantes:
- desconfie de preços baixos demais;
- verifique se o site é confiável;
- pesquise a reputação da empresa nas redes sociais e sites de reclamações;
- não deixe salvo o número do cartão de crédito no e-commerce;
- evite clicar em links enviados por WhatsApp, e-mail e redes sociais — prefira entrar direto no site da marca e procure por lá o produto que deseja.
Enfim, a inflação nada mais é do que o aumento dos preços de produtos e serviços, e é um movimento natural da economia. O problema do índice é que, quando ele está alto demais, a população perde poder de compra e precisa mudar o padrão de consumo para sobreviver. Para garantir o equilíbrio das contas e uma boa qualidade de vida, basta aplicar as dicas de economia que demos por aqui.
Deu para perceber a importância da organização financeira, né? Então, veja também o passo a passo para fazer um planejamento financeiro e se prepare para tudo!