Na segunda metade da década 1990, ganhou tração entre jornalistas e analistas americanos a expressão new economy, ou seja, nova economia. A ideia era simples: vivíamos o processo de transição de uma economia de produtos para uma de serviços, tudo isso guiado pelo avanço da tecnologia.
A famosa bolha das ponto com — uma queda acumulada de 75% na bolsa de NASDAQ ao longo do ano de 2000 puxada pelo fraco desempenho de empresas nativas digitais — jogou dúvidas sobre o tópico. Muita gente questionou se a internet e a digitalização tinham mesmo vindo para ficar e seriam, de fato, capazes de mudar a regra do jogo. Hoje sabemos a resposta.
Neste artigo, falamos sobre economia colaborativa, negócios sociais, hábitos de consumo e o que isso pode significar daqui em diante. Boa leitura!
Uma economia sobre pessoas
Uma pesquisa da CEI Survey apontou que 2020 é o ano em que a experiência do cliente superará o produto e o preço como maior diferenciador de uma marca. O cliente se desloca para o centro das estratégias das grandes empresas enquanto os seus hábitos de consumo mudam. A nova economia, afinal, parece ser mais sobre pessoas do que sobre tecnologia.
Para empreender nesse contexto, é importante entender as necessidades desses novos consumidores. O que eles esperam de um novo produto ou solução? Os grandes casos recentes de empresas que conseguiram causar uma disrupção em seus respectivos mercados, o fizeram como?
Aplicativos de transporte e delivery, fintechs e outras empresas que parecem entender tão bem as dores de seus clientes entregaram soluções que poderiam ser muito mais baratas, funcionais ou muito mais ágeis que as opções existentes. Às vezes, tudo isso junto — e em modelos altamente escaláveis, em diferentes tipos de mercado.
O cliente no centro do mercado financeiro
Já no mercado financeiro, não seria diferente. Novas soluções já nascem digitais em empresas contemporâneas e para os bancos tradicionais, a capacidade de se adaptar as mudanças se tornou algo indispensável.
Nesse mesmo sentido, a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) trouxe ótimos insights com a pesquisa A relação do brasileiro com o dinheiro, que dividiu os entrevistados em quatro perfis distintos.
Um dos dados interessantes deste estudo é que o perfil construtor , que enxerga pequenas conquistas materiais como investimento, cai entre os os mais jovens — a chamada Geração Z, nascidos entre a segunda metade dos anos 1990 e 2010. Curiosamente, a mesma pesquisa também identifica, na Geração Z, um crescimento dos planejadores, que é o grupo que mais valoriza a reserva financeira (91%).
Diferentemente do que poderia indicar o estereótipo, os mais jovens entre a população economicamente ativa não têm perfil inconsequente, mas são, sim, mais desprendidos em relação a importância (ou utilidade) de ter posses. Uma próxima geração criada em uma economia de consumo em que o verbo "assinar" parece ser mais bem quisto que "comprar".
Aqui no banco BV por exemplo, investimos em melhorias continuas dos nossos produtos e serviços, sempre deixando o nosso cliente no centro das nossas decisões. Para isso, é necessário (não somente as empresas do mercado financeiro) mergulhar na era da transformação digital e trabalhar para que os produtos e serviços se tornem soluções realmente eficazes para o cliente.
Uma economia mais colaborativa
Expressão bastante popular nos dias de hoje, "economia colaborativa" é o nome que resume uma relação de consumo que passa a se caracterizar menos pela posse de bens e mais pelo acesso aos serviços desejados.
É o que acontece quando pessoas preferem alugar uma certa ferramenta por hora em vez de simplesmente comprá-la.
Na economia colaborativa, nascem, inclusive, ecossistemas de troca de bens e serviços em que empresas podem realizar um papel de fundo, apenas fornecendo a interface — um aplicativo, por exemplo — para que essas trocas aconteçam.
A ideia de colaboração dialoga, ainda, com outras dores desse novo consumidor, como uma crescente preocupação com as questões ambientais, desperdício e sustentabilidade.
Negócios sociais (ou mais sociais)
A definição do que é um negócio social causa divergências. Como ponto comum, a ideia de que esse tipo de empresa, próprio da nova economia, tem como razão de existir proporcionar uma solução de alto impacto social, capaz de mudar a vida de pessoas em situação de vulnerabilidade.
Diferentemente de uma ONG, um negócio social não depende de doações para se manter. Ele vende as suas soluções e segue as melhores práticas de gestão empresarial, mantendo a sua saúde financeira e projetando crescimento.
As diferenças começam quando se fala em lucro. O ganhador do Nobel da Paz Muhammad Yunus defende que negócios sociais têm a obrigação de reinvestir todo o lucro, gerando sempre mais impacto a mais pessoas e a menor custo.
Outra corrente de pesquisadores como Stuart Hart e Michael Chu, afirma que distribuir parte dos dividendos tem o potencial de atrair mais investimentos e dar àquele negócio social uma escalabilidade que não seria possível sem essa prática.
Negócios sociais podem, ainda, atuar na promoção e distribuição de produtos ou serviços que são originários de populações de baixa renda e/ou alta vulnerabilidade social — uma empresa que leva a grandes centros a produção artesanal de uma comunidade isolada, por exemplo. Em outras palavras, eles podem funcionar em dois caminhos distintos, levando produtos e serviços dos centros para as periferias, ou vice-versa.
O grande ás na manga dessas empresas — e que serve de lição a todos empreendedores — é que o caráter social desses negócios gera mais valor a eles. Uma pesquisa da consultoria Accenture mostrou que 83% das pessoas preferem comprar de empresas com as quais elas compartilham valores. Não é difícil entender porque cada vez mais marcas tomam partido e se posicionam em pautas polêmicas do debate público.
Uma economia de inovação constante
Por fim, a marca definitiva da nova economia é o apreço pela inovação, seja ela disruptiva ou não. Em um mundo cada vez mais dinâmico, as regras do jogo mudam rapidamente. Negócios estáticos podem ver as suas vantagens competitivas se diluírem do dia para noite.
Empresas que são nativas digitais já nasceram em um ambiente que cobrava esse tipo de comportamento delas. Grandes players do mercado, por outro lado, podem precisar encarar o desafio de promover uma mudança de cultura organizacional em suas companhias.
Dean Kamen, empreendedor americano e fundador da DEKA Research and Development, diz que “de vez em quando, uma tecnologia nova, um problema antigo e uma grande ideia se encontram” e é daí que surgem as grandes ideias, capazes de oxigenar ou até mesmo causar fraturas em mercados estabelecidos.
Criar a tal cultura propícia à inovação passa por encontrar oportunidades de negócios nas dores dos seus clientes ou possíveis clientes, mas também entender que inovar é assumir riscos e que nada mais natural do que encontrar percalços — e mesmo fracassos — nesse caminho. Inovar é, afinal, como a nova economia no seu todo, sobre pessoas.
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