Roberto Padovani
Junho 2022
Em 2022, o panorama dos mercados financeiros vem sendo marcado pela alta de juros nos Estados Unidos. E, embora este evento fosse amplamente esperado, a novidade é que seus impactos nos preços de ativos não têm ocorrido de forma homogênea.
De fato, após o Banco Central norte-americano mudar sua comunicação ao final de 2021 e indicar um movimento mais rápido de alta de juros e redução de liquidez, as reações do mercado não têm seguido um mesmo padrão.
Apesar do otimismo que ocorreu no começo do ano, o humor dos investidores mudou drasticamente em abril e oscilou em maio e junho novamente, entre leituras positivas e negativas.
Um cenário otimista
No primeiro trimestre deste ano, a alta da taxa básica de juros dos Estados Unidos foi acompanhada por duas constantes: uma correção relevante nos juros de 10 anos e pelo otimismo com o crescimento global.
Do ponto de vista de estratégia dos investidores, este movimento implicou uma rotação dos fluxos de capitais em direção aos mercados acionários considerados mais baratos.
Justamente por isso, os emergentes passaram a receber recursos e, no Brasil, bolsa e câmbio mostraram importante valorização. Ao contrário do esperado, o início do aperto monetário nos Estados Unidos gerou otimismo em relação aos mercados emergentes e favoreceu os ativos locais.
O ponto de ruptura
Este comportamento, no entanto, mudou a partir de abril. A combinação de novos confinamentos na China e guerra na Europa levou a mais choques de custos e incentivou a leitura de persistência da inflação e menor crescimento global.
Junto com o processo de retirada de estímulos monetários, o temor de recessão passou a guiar os ativos. Desta vez, a reação dos investidores foi a esperada e definiu uma tendência de queda das bolsas e pressão de alta no dólar.
O mau humor de abril foi revertido em maio que, curiosamente, é um mês sazonalmente negativo para os mercados. A ideia pouco usual que prevaleceu foi a de que o risco de uma recessão atenuaria a necessidade de que bancos centrais retirassem totalmente os estímulos, preservando as condições de liquidez e, com isso, permitindo a valorização de ativos de risco.
Por último, o início de junho não tem sido favorável. A cautela voltou na esteira do diagnóstico de que a retirada de estímulos irá reforçar a desaceleração econômica, aumentando o risco dos principais ativos financeiros.
Ou seja, para um mesmo evento, os investidores reagiram de modo diferente em quatro momentos no primeiro semestre. Não deixa de ser um bom termômetro do nível de imprevisibilidade da economia e dos mercados.
O que esperar daqui para frente?
Este padrão não deverá ser alterado. Além de os cenários continuarem instáveis, como tem sido a norma na pandemia, a retirada de estímulos monetários e a decorrente desaceleração global deverão trazer apreensão entre os investidores.
Com a taxa de desemprego nos Estados Unidos em 3,6%, um dos patamares mais baixos em quase 70 anos, a economia opera em pleno emprego. Mas, ao mesmo tempo, os choques sucessivos após a pandemia levaram a inflação ao consumidor a seus níveis mais elevados em 40 anos.
Neste amiente de extremos, restam poucas dúvidas sobre a necessidade de uma política monetária contracionista - o que implica em juros acima de seu nível de equilíbrio, estimado em 2,5%.
Não menos importante, os bancos centrais devem reduzir seus balanços e retirar parte da enorme liquidez injetada durante a pandemia. Neste caso, os juros de 10 anos devem continuar em alta e alterar a precificação dos principais ativos.
O resultado esperado é que o aperto nas condições financeiras leve a uma desaceleração global, afete a confiança dos investidores e traga instabilidade aos mercados.
E qual a melhor estratégia na hora de investir?
Sem movimentos lineares ou facilmente previsíveis, a recomendação para as estratégias de investimentos no ano não deve ser alterada. O quadro segue propenso a acidentes, com a ocorrência de choques sucessivos e volatilidade dos preços.
Com baixa previsibilidade, não há direções únicas e, por isso, será preciso continuar monitorando as condições de liquidez e procurar oportunidades para ações táticas de curto prazo.