Roberto Padovani
Agosto 2022
Os mercados financeiros seguem voláteis, alternando entre bons e maus momentos desde o início do ano. Ainda que este quadro deva continuar como padrão no segundo semestre e com os mercados começando a considerar as incertezas eleitorais no Brasil, a novidade, do ponto de vista de estratégia financeira, é a leitura de que o processo de alta de juros no Brasil está próximo do final.
Alguns fatores favorecem o encerramento do ciclo de aperto monetário. Com a alta dos juros internacionais e alta da inflação, o encarecimento do crédito global deverá reforçar o desaquecimento econômico já iniciado na Ásia, Europa e Estados Unidos.
Neste caso, espera-se um quadro de menor pressão inflacionária, sustentando a correção já observada nos preços de commodities, em particular o petróleo. Da mesma forma, o contexto favorece a continuidade da regularização na logística e nas cadeias de produção.
Como está a inflação no Brasil?
Localmente, a moeda brasileira mostra comportamento mais favorável em um momento em que a inflação deve finalmente iniciar um processo gradual de convergência em direção às metas. Com um melhor desempenho da inflação, as expectativas para o próximo ano devem parar de subir.
Por outro lado, ainda há várias preocupações. A expansão fiscal no Brasil impulsiona a economia e sanciona mais repasses de custos. Os núcleos de inflação alta seguem, no patamar de dois dígitos, e os preços de serviços continuam subindo, com o setor sendo beneficiado pela reabertura da economia.
Qual o impacto da inflação alta?
Com a inflação alta, a história mostra que a indexação da economia é incentivada. Somados, estes fatores elevam as chances do Banco Central (BC) não cumprir o teto da meta de inflação por três anos consecutivos.
E agora, o que fazer?
Diante desse quadro, a comunicação do BC é que, mesmo que haja espaço para ajustes marginais na taxa básica, a estratégia seria a de manter os juros elevados por um bom período.
Com os juros nominais parados e a inflação em queda, as taxas reais devem subir e reforçar o aperto nas condições financeiras, contribuindo para a ancoragem das expectativas.
Não menos importante, o BC também indica que o cenário de 2024 deverá ter peso crescente em suas decisões. Em um contexto de incertezas atipicamente elevadas no Brasil e no mundo, é possível que os bancos centrais aceitem uma convergência mais lenta da inflação.
No caso brasileiro, a mediana das expectativas mostra que uma Selic em 13,75%, ao final deste ano, deve conduzir a um IPCA de 5,36%, em 2023, e de 3,3% no ano seguinte. Ou seja, a inflação só voltaria para a meta a partir de 2024.
Estas sinalizações, portanto, indicam que um cenário provável é aquele em que a Selic fique parada e a inflação siga em queda, influenciando a queda das taxas nos contratos mais curtos do mercado futuro de juros. Ou seja, ainda que o ambiente seja de volatilidade para bolsa e câmbio, a atratividade da renda fixa é bastante elevada.