Dezembro, 2022
Roberto Padovani
O próximo ano, 2023, deverá ter duas características principais: a desaceleração econômica global e o aumento do endividamento público brasileiro. Combinados, estes fatores produzirão mais um ano de instabilidade nos mercados.
Do ponto de vista externo, o quadro já é bastante claro. A alta inflacionária, resultante da retomada pós-pandemia, leva a uma piora nas condições globais de renda.
Como resultado, os bancos centrais iniciaram um processo de retirada rápida de estímulos, que já produz impactos sobre a riqueza e deverá ser bem mais claro no mercado de crédito ao longo dos próximos meses.
Não menos importante, questões geopolíticas e sanitárias reforçam o ambiente de incertezas e de desaceleração econômica. Ainda que existam dúvidas em relação à magnitude e velocidade deste processo, o fato é que o próximo ano deverá ser marcado pelo desaquecimento da economia mundial.
A segunda grande história de 2023 será o comportamento da dívida pública brasileira. Com a forte pressão por gastos em um cenário de perda de fôlego da arrecadação, a dívida deverá voltar a subir em um contexto de juros elevados.
Ao mesmo tempo, a estratégia econômica do próximo governo já foi sinalizada e deverá ter como base a expansão fiscal.
A partir destas duas hipóteses centrais, contração global e expansão fiscal doméstica, faz sentido trabalhar com a continuidade da instabilidade financeira e um novo equilíbrio macroeconômico.
Desaceleração econômica: quais são os impactos?
O primeiro impacto causado pela desaceleração econômica, em 2023, deverá ocorrer no câmbio. As variáveis que explicam os movimentos da moeda ao longo da experiência de regime de taxas flutuantes, como preços de commodities, dólar global, risco soberano e, principalmente, diferencial de taxa de juros, indicam pouco espaço para uma tendência de apreciação em 2023.
Este cenário de desaceleração econômica não impede a continuidade do movimento de queda da inflação e dos juros, mas deve reduzir a intensidade do movimento. Como resultado, o crescimento no Brasil deverá mostrar acomodação.
Já do ponto de vista de estratégia financeira, o ambiente global do próximo ano e as preferências econômicas sinalizadas pelo novo governo já permitem antecipar um quadro de instabilidade em bolsa e câmbio, mas ainda preservando as apostas em renda fixa.
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